terça-feira, 24 de novembro de 2009

Falando Francamente



Arnaldo Nogueira participou dos primórdios do telejornalismo no Brasil. O repórter possuiu um programa de entrevistas chamado Falando Francamente que era exibido em meados dos anos 50 na TV Tupi. O primeiro talk-show da TV brasileira ficou onze anos no ar. Uma das entrevistas se tornou histórica.

Arnaldo falava francamente com Marechal Rondon, militar famoso à época, mas o papo ficou franco demais. Quando Marechal Rondon criticou o guaraná servido durante a entrevista, via-se um Arnaldo mais branco do que de costume nas tevês preto e branco da época. O programa era ao vivo, não havia como editar. O Guaraná Champanhe cancelou o patrocínio um dia depois.

O jornalista Arnaldo Nogueira entrevistaria o Marechal sabendo que iria perder o patrocínio? Provavelmente, não. Mas este é o cerne da questão. Jornalista não se curva perante seus anunciantes. Jornalista cede aos interesses da sociedade.

Em 2008 o site Gamespot anunciava diversos jogos de computador. No mesmo site, foi publicada a resenha de um jogo por um jornalista. Tal jogo era anunciado no site, o problema foi a nota dada pelo jornalista, uma nota baixa. O jornalista foi demitido. Nenhuma das três partes (anunciante, site e jornalista) confirmou que a demissão foi motivada pela resenha. Mas com certeza ajudou para tal.

Temos aqui um exemplo claro de influência dos anunciantes no conteúdo jornalístico. É dever fazer as devidas críticas ao jogo, se ele assim merecer. Jornalista não deve se curvar a anunciantes. Mesmo sem emprego, mantém seu caráter íntegro.

No Brasil as coisas não são diferentes, a rede Globo, por exemplo, deveria veicular um Globo Repórter com os males do alcoolismo, já que o programa vem recebendo críticas quanto ao conteúdo nos últimos meses, seria uma prestação de serviço exemplar. Mas isto não ocorre, talvez pelo número de anunciantes de cerveja do canal? Talvez.

Recentemente, o jornal americano The New York Times publicou uma matéria financiada pelos próprios leitores. A solução parece inteligente, o público pagaria pelo seu próprio conteúdo, este, chegaria limpo às suas mãos, sem risco de que tal conteúdo tivesse algum tipo de influência dos anunciantes. Afinal, os anunciantes não existiriam, a matéria seria bancada pelo próprio leitor. O interesse defendido pelo jornalista seria apenas o interesse do cidadão.

A intenção é maravilhosa, mas a ideia de o leitor financiar matérias soa utópica. O mundo está se tornando auto-suficiente em relação às notícias. As redes sociais, a troca de informações entre os próprios cidadãos se torna cada dia mais comum. A imprensa deve focar seu conteúdo para os cidadãos. Anunciantes virão naturalmente, mas antes, é preciso criar credibilidade para servir de vitrine para as propagandas. Lembrando que, departamentos comerciais e editoriais não devem se misturar.

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