quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Rádio?


A escuridão cobriu a sala de aula. Inicialmente, esbravejei e amaldiçoei a instituição onde estudo:

- Mas não temos um gerador?

A caminho do ponto de ônibus, percebi que a escuridão era generalizada. Demorei uma hora e meia num trajeto que leva aproximadamente quarenta minutos. Também pudera, semáforos não funcionavam e o humor dos motoristas aquela altura não ajudava. Chegando, liguei a lanterna do celular para encontrar a chave de casa.

Entrei e encontrei um cenário singular: toda minha família reunida em volta da mesa, iluminados pelas velas espalhadas sobre a mesa, suas feições não eram nítidas, a falta de luz dificultava e eu não percebi que estavam afoitos. Todos curiosos para saber o que acontecia com o mundo. O que houve para a energia sumir? O que aconteceu que não posso esquentar um café no microondas? Por que a TV não liga? Cada pormenor que passa despercebido no dia-a-dia não é possível sem energia. Todos desesperados por notícias, pediam-me que ligasse o rádio. Envaidecido como aspirante a jornalista que sou, tratei de atender ao pedido.

Carrego comigo um MP4, um desses aparelhinhos que faz tudo: roda vídeos, toca mp3 e também possui rádio FM, entre outros apetrechos. Mas como ligar um rádio que funciona com fones de ouvido para toda a família ouvir? Botei a cabeça para funcionar e tive uma ideia. Ideia que não pôde ser representada por uma lâmpada perto de minha cabeça, afinal, faltava energia (piada infame). Pois bem, minha ideia era pegar o notebook e suas caixas de som, que funcionam via USB, e ligá-las ao MP4, obtendo assim, um rádio audível a todos. Ah, o rádio. Rádio é igual polícia, só faz falta quando precisamos. Pois é, estação nenhuma sintonizava, até que a Jovem Pan deu o ar da graça e saltou caixas de som afora. A informação inicial foi de um apagão na região sudeste do país. Logo, o diretor-geral de Itaipu entrou no ar para dizer que uma “avaria” levara nossa tão necessária energia. A causa parece ter sido um raio. Que raio, não? Mas o que chamou a atenção mesmo, foi minha família em volta do notebook, ligado às caixas de som USB, ligadas ao MP4, todos em silênciio ouvindo... O rádio, o velho rádio. Tão desprezado em outros dias voltou a ser querido por algumas horas. Prova de que o rádio não morrerá. Obrigado rádio.

Este texto foi escrito às 01:15 da manhã, no dia do apagão.

Um comentário:

  1. Léo, o velho e bom rádio realmente fez falta ontem. Quando consegui sair da faculdade e chegar até o meu carro, a primeira coisa que fiz foi ligar o rádio. Pensei ... o rádio é rápido, saberei agora o que está acontecendo e a minha surpresa foi igual a sua quando não consegui sintonizar rádio alguma. Imaginei ... o problema não está só na região de Santo Amaro ... é bem maior!
    ... quando cheguei em casa minha filha me esperava na garagem do prédio, com medo da escuridão. Subimos juntas pelas escadas iluminadas pelo celular (que serve para isso também) e eu comentei que estava faminta, louca para jantar. Ela imediatamente falou: - Jantar como? Não tem energia. Aí eu disse: - Não tem energia, mas tem fósforo e gás ... venha comigo, vou te mostrar ... (rsrsrs). Os apagões podem ser educativos também. Adorei o seu texto! Abraços. Clausia

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