domingo, 20 de novembro de 2011

PEIDEI, MAS NÃO FUI EU


O texto a seguir possui três pontos de vista que analisam um mesmo assunto: os trabalhos em grupo com nota coletiva do 6º semestre de jornalismo da Universidade de Santo Amaro e os problemas que esta atividade produz.

Os alunos

Alunos da sala 311-C em aula


Do ponto de vista de alguns alunos, a desunião do grupo e o ego atrapalham a convivência. “A nossa sala desenvolveu uma maneira de fazer trabalho que é pouco convencional, é na base das patadas. Quem olha de fora acha que a gente se odeia, mas a gente até que se gosta na medida do possível (risos). A gente atrasa, briga, fala mal pelas costas, mas no final o trabalho acaba saindo.” A opinião é de Diogo Oliveira, ou Dih para os íntimos.

Já para Larissa Camargo, a sala não consegue trabalhar junta. “A nossa sala não sabe trabalhar junta como um todo, só em alguns grupos”, analisa. Além disso, Lari diz que a sala não sabe cumprir prazos e deixa sempre as tarefas para o último momento. O aluno Rafael Barreto é mais incisivo em sua análise: “na nossa sala, acho que o que reina é falsa amizade”, diz. “Todos querem foder o ‘amigo’, ser melhor do que ele, mostrar o quanto é foda e preparado, que sua vida é mais sofrida e isso o fez mais forte, mas como todo medíocre, eles temem precisar da ajuda de outra pessoa pior de alguém da sala”, vocifera Barreto. Segundo o aluno, isso acabou fechando certos núcleos de amigos desde o começo do curso e, apesar de algumas mudanças e reestruturações, isso continua e piora a cada semestre. “Claro que há amizades verdadeiras, mas são poucas”, finaliza.

Segundo Tiago Machado, a guerra de egos superou em todos os sentidos o espírito de coletividade. “Se antes já era quase utopia pensar em atividades pacíficas realizadas em grupo por toda a sala, hoje podemos ver que esse tipo de situação não deve ser nem colocado como hipótese. Acredito que a 311-C deveria ser modelo para um estudo científico”, brinca o estudante.

Trabalhar em grupo requer inteligência emocional, porém, os alunos são individualistas, como conta a aluna Vannessa Turkiewicz. “Eles nunca pensam no grupo em si, só no benefício próprio. Muitos discordam das ideias dadas, mas não dão outras. Reclamam do resultado final mas não participam quando devem”, analisa. Para Vannessa, o espírito vingativo também dificulta a vida em grupo na turma da sala 311-C. “Muitos não sabem dividir o lado pessoal. Por exemplo: eu não vou com a sua cara, dai num trabalho em que sou sua editora, se você não mandar no prazo, não pensarei duas vezes em avisar [ao professor] que você entregou atrasado. Sendo que, se fosse alguém legal, acabaria dando um jeitinho, dizendo que chegou no dia. O povo é vingativo! (risos)”, finaliza.

Os mestres

Professor em aula na 311-C: "Me demito", disse minutos depois de tirar a fotografia



O coordenador do curso, Edson Correia, acha a situação “complicada”. “A impressão que tenho é que vocês não confiam uns nos outros e por isso parece que um não gosta de trabalhar com o outro, porque sempre acha que alguém vai pisar na bola”, diz. O ex-professor da turma, Wagner Belmonte, afirma que nunca teve problemas com trabalhos em grupo na turma, mas revela outro defeito dos alunos. “Uma boa parte do inconsciente coletivo da classe é refratária a qualquer crítica. A crítica não tem a finalidade de esculhambar, humilhar, menosprezar quem quer que seja. Ela tem, sim, a finalidade de ajustar a qualidade que se exige e estabelecer um parâmetro pelo qual vocês serão cobrados. Sentia, nos tempos que dei aula a vocês, que tinha gente que torcia o nariz quando eu dava nota baixa. Mas todas as notas dadas tinham uma fundamentação. Nada foi feito sem critério.”

Para Belmonte, nós, jornalistas, não podemos nos dar ao luxo de chutar informações sem que tenhamos alguma certeza sobre elas. Esta é uma falha grave, segundo ele. Também não podemos nos dar um aval para editar algo que contenha erros de português (ortográficos e principalmente gramaticais), muitas vezes provocados por falta de revisão. “Em síntese, pode parecer uma baita babaquice, mas não é. E algo bem maior está em jogo.”

O dono do blog

Leonardo Araujo vendo sua nota no site da universidade


Semestre passado eu estudei Durkheim. Ele dizia que o homem possui um consciente coletivo. O homem se comporta em conformidade com seu grupo social. Mas não é só um grupo de gente junta que forma o tal grupo social. Segundo Tiago Dantas, do site www.mundoeducacao.com.br, uma fila de cinema, por exemplo, nada tem a ver com o tal grupo social. Ele seria mais bem identificado como um grupo de estudantes que cursam a mesma graduação. Minha turma é um grupo social secundário e primário: há pessoas que são como irmãs (primário), mas há aqueles que, quando mais, trocam apenas um boa noite (secundário).

Isso num resumo porco de um raciocínio extenso, ok? Eu cito o autor e a sociologia porque foi útil para minha reflexão. Nos últimos dias, comecei a pensar que trabalhos em grupo (nada de sociologia no termo aqui, ok?), pelo menos na minha turma, não funcionam. Que fique claro: refiro-me a trabalhos em que toda a sala deve participar para um objetivo. Uma revista ou jornal, por exemplo, com uma só nota para todos.

Deixe-me posicionar vocês (ui, que gostoso!). Professor adora um lenga lenga. Principalmente se o professor não entende para quem ele dá aula, aí o lenga lenga fica sem sentido para os alunos, mas mesmo assim o mestre adora o lenga lenga. Eu estudo na Universidade de Santo Amaro. No meu curso (Comunicação Social, Jornalismo), a maioria dos alunos não tem muita grana e trabalham pra pagar as mensalidades. Mas tem professor que não saca isso não.

Os sábios da academia tentam fazer a minha turma, que tem pouco mais de 15 pessoas, trabalhar em grupo todo semestre. Sempre pedem um trabalho que envolve a sala toda. E sempre dá merda. O argumento é tentar “simular” uma redação de jornal ou algum ambiente corporativo, que seja. É aí que a merda fede muito. Porque, ao contrário do que acontece num ambiente corporativo, quando um faz merda, a sala toda se fode.

“Mas Léo, quando alguém faz merda na empresa, todo mundo se fode também”. Concordo, porém, na maioria das vezes isso ocorre indiretamente. Na faculdade não. Se você atrasar o texto da porra da revista cuja nota é coletiva, você se fode e fode todo mundo também. O motivo que faz um aluno atrasar sua função pré-definida eu não sei. Só sei que tem sido assim durante longos seis semestres.

É óbvio que todos ali (ou pelo menos a maioria) querem se formar e estão se esforçando pra isso. Conheço gente da turma que tem filhos, dívidas, famílias destroçadas, namoros terminados, e o que mais qualquer roteiro de novela mexicana puder conter. Tem gente que chega na sala atrasado porque tava negociando a dívida com a faculdade e ainda tem de ouvir o professor falando merda.

Não estou defendendo meus colegas, muito pelo contrário, sei que tem gente ali que respira jornalismo, porém, outros estão cagando para essa abençoada profissão. Mas ter de ouvir comida de rabo feito criança no primário de professor grosso e mal amado, aí já é demais.

Um resumo prático


Professor da Unisa protegendo os alunos do boleto de mensalidade mesmo depois de algumas brigas

Se os alunos de minha turma só colocam a camisinha depois da confirmação de gravidez, os professores e a coordenação devem pensar em provocar o uso da camisinha ainda quando houver tempo (uahuahuhahuauhauh), ou seja, nada de trabalhos com notas coletivas, ok? É preciso enfiar uma piroca no cu de cada aluno, para que ele lute até o fim do semestre para tirá-la de lá, ok? Assim, evitaremos aforismos engraçadinhos, como o que intitula este post. Tem gente na turma que não merece levar sermão por erros alheios. Não merece mesmo!

Um comentário:

  1. Adorei a sua conclusão mano, isso é um fato. Levar broncas diretamente como levei e da forma que eu levei me fez quase desistir do curso. Não sou perfeito, estou muito longe disso, mas também não sou um zero a esquerda, que decretaria o rebaixamento do curso de Jornalismo ou não tenho capacidade de publicar nenhum texto. A sala é muito boa quando se fecha em pequenos grupos. Quer um exemplo disso? Que tal o segundo lugar no documentário do carnaval na semana de comunicação? Que tal o bom trabalho feito na matéria do sbarai? Que tal as peças radiofônicas diversas, ministradas pelo excelente Marcelo Cardoso? Ele as usa como exemplo, sabia? E isso apenas contando os trabalhos em que participei. Tenho certeza que muitos possuem tantos trabalhos bons como o meu para apresentar aqui.
    Graças ao aprendizado na Universidade conquistei um ótimo estágio, com boa remuneração, textos publicados todos os dias em uma revista bimestral com tiragem de 14 mil exemplares e fui elogiado em pleno Congresso Brasileiro, o segundo maior evento do mundo da especialidade.
    Por isso, reforço a sua conclusão; "Mas ter de ouvir comida de rabo feito criança no primário de professor grosso e mal amado, aí já é demais".

    Abraços e belo post.
    Tiago

    ResponderExcluir