quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O AUMENTO


Estava radiante. Os olhos não negavam a inevitabilidade de sua vingança. Estava próxima. Há dois dias tinha conseguido dinheiro no farol, uma quantia suficiente para ir a uma Lan House. Foi e relembrou de seus momentos de outrora, em que passava horas e horas na vida digital. Sentou na cadeira acolchoada. Olhou para o lado e viu um guri que navegava por um site pornô com a mão sob a mesa fazendo Deus sabe o quê.

Seu nome era Josias Cunha, mendigo. Em 2004 sua empresa de sistemas falira. Desgostoso, ele foi viver nas ruas. Já não tinha família, pois todos morreram numa enchente nos anos 90. À época, Josias era morador da Favela do Amarelinho, devastada pelas chuvas de verão do fatídico ano de 1995. Perdeu todos que possuíam o mesmo sangue correndo nas veias.

Sentado, com o computador à frente, Josias se lembrou de tudo, por um breve - e doloroso - momento. Pesquisou sobre seu sócio, o mesmo que há seis anos, o deixara na miséria após um bem-sucedido calote. Anotou o endereço do nome que aparecia na tela: Carvalho. Jerônimo Carvalho. Este era o nome. A denominação de seu algoz. Aquele que findou a felicidade em seu coração.

Saiu da Lan House e foi para o ônibus que o levaria à sua vingança. Subiu e pagou R$ 3,00. Era o preço para ir até o metrô. De lá, Josias pretendia rumar até a estação Santa Cruz. O destino era uma rua nos arredores. Era o que pretendia. Quando chegou ao metrô, nosso herói arregalou os olhos e não acreditou. A passagem havia aumentado e os trocados em seu bolso carente já não eram suficientes. O tilintar tímido que saía do buraco em sua calça denunciava: Josias só possuía R$ 2,65 para pagar uma passagem de R$ 3,00.

Josias desistiu de pôr fim à vida de Jerônimo. Em compensação assassinou 20 pessoas que entravam na estação de metrô Santa Cruz, antes de ser detido por um policial. Josias sorriu.

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