Infância
No início dos anos 90 eu era uma criança feliz. Eu gostava de comer “ovo molinho”, dado por minha mãe, na boquinha deste que vos escreve. Ela cozinhava o ovo, um bocadinho só, pra ele ficar “molinho”. Daí eu sentava na mesa, apoiava os pés na cadeira e, com o uniforme do “présinho”, comia o ovo. Sempre que o ovo terminava, eu pensava: “Eita, tô forte agora, vou ficar inteligente”. O café da manhã estaria completo depois que eu bebesse o Yakult de praxe. Minha mãe comprava uma cartela da tia do Yakult que passava no bairro. A cartela durava algumas semanas.
Estudei dois anos no pré e, no primeiro deles, a tia Irene (dona) cuidava das crianças em sua própria casa. No segundo ano ela prosperou e comprou uma casa maior. Eu cheguei a ficar na sala de castigo uma vez, uma saleta onde ficava o mimeógrafo em que a tia Irene preparava os exercícios. No pré só escrevíamos a lápis. Na mesma época eu jogava bola, andava de bicicleta e me machucava bastante. Eu sempre tinha uma cicatriz nova em alguma parte do corpo. Foi mais ou menos nessa época que minha Vó morreu, ela tinha mais de 100 anos e foi a primeira vez que vi minha mãe chorar.
Quando eu tinha uns 11 anos comecei a engordar bastante. Sempre fui um menino magro, mas comecei a ficar gordinho logo no início da adolescência. Época cruel pra engordar. Nessa época, durante a exibição de “Minha mãe é uma sereia”, na Sessão da Tarde, que descobri o orgasmo. O primeiro orgasmo é tão marcante, não? Abre-se um mundo de prazer desconhecido, porém, perde-se boa parte da inocência. Pois bem, descobrindo o orgasmo, descobri também os hábitos juvenis.
Pouco depois comprei minha primeira Playboy. A Tiazinha do H posara nua, eu era fã da morena, mas obviamente não poderia efetuar a compra, já que era uma criança, gorda e punheteira. Chamei um colega do colégio, ele era alto e aparentava maioridade. Ele foi à banca de jornal e eu fiquei à espreita. Foi extremamente embaraçoso, até porque o vendedor fez questão de dizer: “Não quero que a mãe de ninguém venha reclamar comigo, hein!”. Que vergonha! Mas valeu a pena, a revista rendeu bons orgasmos. Eu estudava pela manhã. Jogava vídeo-game até cansar. Dormia à tarde, lia à noite e ouvia muita música. Nessa época percebi que o mundo era um lugar bastante cruel.
Maioridade
Em 2008, com 23 anos, eu pesava em torno de 123 quilos, foi quando resolvi emagrecer. Emagreci. Malhava todos os dias e comia apenas o necessário. Só não abdiquei da cerveja. Antes de começar a cursar Jornalismo em 2009, tive minha primeira experiência verdadeiramente jornalística. Cobri um festival de rock’n roll para um site de música. No meu texto utilizei elementos da minha profissão, como o lead e as aspas, sem nunca ter estudado isso. Culpa do amor pela música e pelo futebol, que me fazia comprar revistas e jornais, acabei acostumando com o que lia.
Hoje estou fazendo 26 anos. O mundo continua cruel e maravilhoso.
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