domingo, 29 de agosto de 2010

O engasgo

Eu voltava para casa. Estava cansado e nervoso porque minhas pilhas do mp3 player haviam descarregado. Não tinha nenhum livro na bolsa, daí a viagem tediosa de 40 minutos da faculdade para minha rua demoraria umas 2 horas.

Decidi observar o movimento na região de Santo Amaro, em São Paulo. À noite ela fica vazia, a maioria dos que ficam é composta por mendigos. Um deles chamou minha atenção. Era jovem, devia ter uns 28, estava deitado no pequeno espaço entre a porta de aço de uma loja e a calçada.

Ele estava agitado, falava sozinho. Passou uma pessoa com uma garrafa de água, ele pediu e a pessoa deu. O rapaz foi matar a sede deitado mesmo e se engasgou, levantou rindo de sua trapalhada, escarrou, passou na frente de meu ônibus, que ainda estava parado, e ficou meio sem graça.

Deitou na frente de outra porta de aço.

Talvez o sorriso revelado pelo engasgo tenha sido o único de seu dia.

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